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Quarenta anos antes do Google, vovô já sabia das coisas.

  • Roberto Barberá
  • 22 de abr. de 2017
  • 3 min de leitura

Meu avô formou-se em direito, quando já estava casado e com quatro filhos. Migrante português, fugido da primeira grande guerra, chegou ao Brasil semianalfabeto e com vinte e dois anos. Era 1915. Autodidata obstinado, cursou o primeiro e o segundo graus em Aracajú, quando conheceu minha avó. Católico, carola, logo casou-se e veio para o Rio de Janeiro, quando ingressou na antiga Faculdade Nacional de Filosofia. Formou-se professor e, em seguida, dedicou-se à carreira do Direito, formando-se advogado quatro anos depois.

Em 1963, eu já ia fazer dez anos e me preparava para fazer o temido exame de admissão para o antigo curso ginasial. As primeiras dúvidas de álgebra começavam a surgir e minha mãe, formada em Assistência Social e exímia fazedora de contas de cabeça, não conseguia me explicar os conceitos da tal “matemática moderna” que eu aprendia na época.

Certa vez, já perdendo a paciência com minhas perguntas impertinentes, ela me disse: “Menino, ligue p’ro seu avô. Ele é professor de tudo e saberá tirar suas dúvidas de Matemática e de várias outras modernidades que você anda aprendendo...”.

Lá fui eu atrás de vovô, que marcou comigo uma aula particular numa tarde sábado. Ele morava próximo ao Jardim de Alah, em Ipanema, e eu no Leblon. Portanto, cheguei rapidinho andando a pé. Bons tempos em que um menino de nove anos podia circular sozinho, a pé, pela Zona Sul do Rio de Janeiro.

Ao chegar ao apartamento de vovô, como sempre, tomei sua bênção, ganhei um beijo na cabeça e um carinhoso peteleco na orelha. Fomos para o escritório, que era meio escuro, tinha mesa, quadro negro e um leve cheiro de cigarro. Vovô não fumava, mas meus tios, sim. Era uma época em que fumar era chique.

E aí, é chegada a hora da verdade. Ainda com sotaque forte, vovô me pergunta, de supetão:

- “ E aí, ó m’nino. O que lhe aflige? ”

Pois é, não me lembro se gelei primeiro e tremi depois, ou se foi o inverso. Como é que eu consegui chegar lá, sem que estivesse preparado para responder pergunta tão elementar? E pior, só percebi isto na hora h. Gaguejando tudo o que eu tinha direito, produzi a seguinte frase de raro brilhantismo infantil: “ Vovô, é aquele negócio de ‘2x+1’ ”.

Do alto de sua sabedoria e com a paciência que Deus lhe deu, vovô me deu uma lição que eu jamais me esqueceria e não foi só de matemática. Ele me disse o seguinte:

1ª.) Saiba, pelo menos, o título do assunto que deseja pesquisar. É o mínimo necessário para que se possa saber sobre o que perguntar. No caso, vovô me ensinou que o assunto sobre o qual eu tinha dúvidas chamava-se “Álgebra” ou, mais especificamente, “Equações Algébricas do Primeiro Grau”.

2ª.) A resposta correta, na pesquisa de qualquer assunto, depende da pergunta. Portanto, esforce-se para formular as perguntas corretas ou, pelo menos, para delimitar o escopo dessas perguntas. Pode ser extremamente trabalhoso “separar o joio do trigo”, quando se trata de pesquisar a respeito de um assunto que não dominamos. A pesquisa acadêmica é um caso típico. Imagine pesquisar em mais de uma enciclopédia, cada uma com, no mínimo, quinze volumes, como era antigamente (hoje temos os Googles da vida. Vovô só conhecia enciclopédias, bibliotecas e livros especializados).

3ª.) Considere pesquisar em outros idiomas (Inglês, principalmente). A abrangência e a profundidade do conhecimento específico, podem variar muito, de cultura para cultura. Na área de tecnologia isto é absolutamente verdadeiro, no caso do acervo em língua inglesa. É, portanto, fundamental fazer pesquisas em inglês.

4ª.) Manter o foco no assunto é de extrema importância. Milhares de respostas interessantes, e não necessariamente relacionadas ao assunto originalmente pesquisado, representarão verdadeiro desafio à disciplina e à concentração do pesquisador, nos mecanismos de busca.

5ª.) Cuidado quando a pesquisa envolver assuntos ligados à legislação, regulamentações e ao funcionamento da economia, impostos e investimentos. Há diferenças regionais relevantes na legislação.

É por aí.

Abraços.

P.S.: por um Brasil melhor;

 
 
 

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