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A robótica em socorro do homem?

  • Roberto Barberá
  • 27 de jul. de 2017
  • 7 min de leitura

Recentemente aqui no blog, em post anterior, eu propunha reflexão a respeito do impacto da inteligência artificial e da robótica, nas oportunidades de trabalho. Concluía que, na realidade, as crianças de hoje provavelmente exerceriam funções e se formariam em profissões que ainda não existem. Portanto, pelo menos aqui no Brasil, teríamos tempo suficiente para a necessária adaptação.

No entanto, tenho observado, não só pela mídia em geral, o crescimento da narrativa de que há perigo iminente de que nosso precioso posto de trabalho possa ser “tungado” por um robô.

Em primeiro lugar, o paradigma do “arranjar uma boa empresa para trabalhar até a aposentadoria” vem se mostrando exaurido e insustentável, até para nossas empresas estatais, mesmo que não tivessem sido roubadas como o foram. Nos países desenvolvidos as empresas vêm sofrendo processo progressivo de horizontalização, em que reina o princípio do “compartilhamento produtivo e adaptável aos objetivos definidos”.

Principalmente na Califórnia – em especial no Vale do Silício - os sistemas de valorização profissional e de meritocracia, aliados à competitividade intra e inter empresas, acabam por provocar rotatividade (turnover) totalmente diferente daquela que pudemos observar no Brasil, durante o período de crescimento econômico recente – de 2010 a 2013 - tempos em que os salários subiram de forma irreal, em função do brusco aumento da demanda por profissionais de nível superior, embora estes apresentassem produtividade extremamente baixa.

Numa economia moderna e saudável, a impressão que se tem é a de que o colaborador (selecionado e contratado) exerce suas funções, enquanto adquire experiência e novas habilidades. No momento em que isto deixa de ocorrer, nem sempre é possível manter-se a motivação e a produtividade. Neste momento, o sistema de meritocracia entra em cena, para restabelecer os padrões originalmente combinados. E nem sempre isto agrada ao colaborador, que não hesita em procurar nova colocação no mercado. O valor da remuneração nem sempre é o fator decisivo para a troca. Do ponto de vista da empresa, a persistência da baixa produtividade (inércia) do colaborador, geralmente leva ao desligamento.

Na minha humilde opinião, estamos justamente na transição da era da informação, para a era da inteligência globalizada. E para que se possa construir e manter uma carreira consistente, neste ambiente de alta competitividade, visualizo três pilares principais:

1) atualização profissional permanente;

2) compromisso com a pesquisa e a busca da inovação; e

3) criação e manutenção de um bom networking.

Estes três elementos me parecem básicos, para a que se possa conquistar e manter a relevância necessária para obter-se consistente ascensão profissional, nesta era em que muitas pressões por resultados podem colocar em cheque, inclusive, nossos limites éticos.

Mas, você realmente acredita que um robô irá tirar seu emprego? Vamos tentar refletir juntos a respeito do assunto.

Imagine uma aldeia no norte da África, que está sendo assolada por uma epidemia de Gripe Asiática mortal e que necessita de 2 milhões de doses de vacina, só para começar. A comunidade internacional se mobiliza e consegue enviar rapidamente as doses, para a equipe do "Médicos sem Fronteiras" que lá se encontrava, a um custo de 200 mil dólares, de modo a que as 10 aldeias atingidas pudessem ser atendidas. As vacinas foram, então, distribuídas em 10 lotes e fornecidas ao governo local, para que fossem transportadas às aldeias. Passado um ano, constatou-se que a eficiência das vacinas não estava de acordo com os prognósticos estabelecidos. Foram verificar e constataram que as vacinas estavam sendo acondicionadas em geladeiras de isopor e transportadas por camelos, pelo deserto. Nestas condições, 50% das vacinas eram perdidas pelo excesso de temperatura, durante as quase 4 horas de viagem. Resultado: 20 mil dólares em vacinas, sendo transportadas em geladeiras de isopor de 2 dólares cada uma e 50% das crianças vacinadas permaneciam morrendo de gripe.

Sabendo deste fato, uma empresa de tecnologia do Vale do silício – a Intellectual Ventures Lab. – desenvolveu uma geladeira portátil, com mecanismo de controle de energia baseado em inteligência artificial, cuja duração é de mais de 4 horas e que já deve estar sendo produzida em escala e tempo recordes, para ser usada no transporte das vacinas para o norte da África, com 100% de aproveitamento.

Mesmo nos EUA de Trump, demonizados, berço do capitalismo selvagem e da tecnologia devoradora de empregos, parece que a robótica anda humanizando o homem. E sabem quem financiou este empreendimento? Bill Gates e Cia.

Em 1943, um sujeito chamado Abraham Maslow representou a hierarquia das necessidades humanas, numa pirâmide conhecida como a Pirâmide de Maslow. As aldeias africanas a que me referi, encontram-se na base desta pirâmide.

E você, meu caro amigo leitor? Em que faixa você supõe que se encontra?

Os EUA se encontram no topo. Acredito que São Paulo e Rio de Janeiro estejam quase lá. Concordo que enfrentamos a maior crise de nossa história. Mas crises chegam e passam. Os EUA (inteirinhos) se encontram entre os 14% da população mundial com as melhores condições globais de vida, segundo a pirâmide de Maslow. Isto significa que um americano que vier a perder o emprego, o carro, a casa e a namorada, no mesmo dia, ainda estará entre os 14% com as melhores condições globais, para a recuperação das mesmas condições que acaba de perder (quanto à namorada, reconheço que exagerei...).

Diante das desigualdades socioeconômicas e da escassez de pessoal especializado, para suprir as necessidades dos menos favorecidos, a robótica e a inteligência artificial acabam sendo a única alternativa, para acelerarmos a chegada de serviços básicos, a estas pessoas. Não há, pelo menos no momento, possibilidade de qualificação de pessoal local, a tempo de fazer frente ao gigantesco desafio, que é o de levar algum atendimento básico e suprimentos a esta gente.

No Brasil, ou melhor, nos Brasis em que vivemos há, também, muito por fazer, com a ajuda da inteligência artificial. Reconheço, da mesma forma, que há muito a ser discutido. Há, inclusive, ótimas cabeças defendendo posições filosóficas e ideológicas a respeito, todas pertinentes, fundamentadas e que devem ser consideradas.

Porém, pelas razões expostas, sinto-me compelido a tentar concentrar o foco em alguns fatos conhecidos da realidade brasileira. Tenho até um pouco de pressa. Mas rogo a você, leitor amigo, que faça uma reflexão cuidadosa, antes de compartilhar sua valiosa opinião com nossos pares nas redes sociais, quando esta discussão estiver estabelecida.

Aqui vão alguns fatos da realidade brasileira:

1) Na educação:

1.1) Estamos extremamente carentes e atrasados no quesito educação.

1.2) Temos professores de menos e com formação precária.

1.3) Já perdemos tempo e dinheiro demais e continuamos perdendo.

1.4) Precisamos, sobretudo, de bons professores para aumentar as oportunidades para nossas crianças.

Como conseguir este milagre? Não faço a mais leve ideia. Imagino que seja possível algo como:

Sugerir ao governo que encomende um programa para recrutamento e qualificação de professores, a ser implantado no Brasil inteiro, via ensino à distância, pela Internet, que utilize ferramentas de software e hardware gratuitas (ou doadas pela Dell, Microsoft, Google e cia.) e que preveja o aprimoramento dos nossos professores, em termos de domínio do conteúdo a ser dado, que possibilite fazerem curso de língua inglesa, que aprendam e tomem gosto pela pesquisa e que possua testes para avaliação do progresso individual de cada professor, on-line, com complementação remuneratória para aqueles professores que forem sendo aprovados em cada etapa. Esta carga horária seria dedicada durante o ano letivo, em paralelo, nos dias de aula, em horário após as classes.

Toda a carga horária que fosse gasta com exercícios de fixação para os alunos, poderia ser assumida por programas (ou games) de todas as matérias, baseados em inteligência artificial, que proporiam os exercícios, corrigiriam as questões, forneceriam exemplos e tirariam dúvidas em tempo real e registrariam o aproveitamento de cada aluno, liberando os professores para que se dedicassem, já durante este tempo, à melhoria de sua formação no programa de qualificação e no aprendizado da língua inglesa, citados anteriormente. Uma pessoa leiga (um inspetor de disciplina, por exemplo) poderia conduzir estes exercícios. O aprendizado da língua inglesa tem por objetivo dar acesso aos professores a conteúdos de pesquisas, na internet, com resultados em língua inglesa.

Como não dispomos de professores qualificados e em número suficiente, demoraria demais para recrutar e qualificar a quantidade necessária. Neste cenário, a inteligência artificial cairia como uma luva no processo de repetição de conceitos e na fixação da matéria dada, sem a necessidade de ocupar diretamente o nosso professor, que estaria trabalhando em paralelo, para acelerar sua qualificação.

2) Na saúde:

2.1) Como diminuir a incidência de mortes nas filas de atendimento dos hospitais, que se encontram “sem dinheiro” e sem pessoal qualificado (médicos e enfermeiros)? Outro milagre? Não sei exatamente o que propor. Mas uso o exemplo dos bancos, que são extremamente bem-sucedidos em otimizar custos e atendimento. Seria algo como:

- Em primeiro lugar, passar a pagar os salários em dia.

- Em seguida, começar pela Implantação de um sistema de pré atendimento.

O pré atendimento classificaria e encaminharia o paciente para a fila adequada e, se possível, já preencheria a ficha de atendimento, em caso de retorno do paciente. Um operador de programa baseado em inteligência artificial poderia realizar este pré atendimento, sem ocupar alguém da enfermagem. Os enfermeiros poderiam ocupar-se, prioritariamente, do atendimento aos casos mais graves.

- Implantação de um sistema de Pré diagnóstico

A área mais desenvolvida da inteligência artificial é a de pré diagnósticos, com base nos sintomas e em resultados de exames, caso o paciente os possua. Com estes programas, a enfermagem poderia agilizar muito o encaminhamento de pacientes para o corpo médico, já com um pré diagnóstico o que, por sua vez, poderia ajudar a orientar o exame clínico e/ou o encaminhamento direto para exames laboratoriais, otimizando o tempo de atendimento do médico. Os sistemas de pré diagnósticos baseados em inteligência artificial “aprendem” à medida em que os diagnósticos vão sendo registrados, melhorando, gradativamente, a precisão dos resultados.

E muito mais...

Há um universo de carências a serem supridas. Imagine a inteligência artificial ajudando na segurança pública. Segurança pública e aprendizado de máquinas (machine learning) são assuntos para mais de metro e mereceriam posts à parte.

E você, meu amigo? Ainda está com medo de perder seu emprego para um robô?

É certo que não haverá mais empregos como os que conhecemos e não será por causa de nenhum robô. Mas haverá trabalho para todos os gostos...

No “frigir dos ovos” o que realmente importa é cada um fazer sua a parte, para que a vida melhore para todos nós. Portanto, não se deixe enganar pela impressão (mais do que pelo clichê) de que “o futuro não precisa de você”.

Diante do cenário atual, qualquer contribuição, por menor que seja, é intrinsicamente relevante. Pode ser questão de sobrevivência para muitos.

E se a inteligência artificial estiver contribuindo para diminuir o atual gap de desigualdades, ocupando espaços para onde ninguém quer ir, farei o que puder para ajudar.

Abraços...


 
 
 

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