A cidadania dos bots
- Roberto Barberá
- 4 de out. de 2017
- 3 min de leitura

A Comissão Federal de Comunicações (FCC) é uma agência reguladora independente do governo dos EUA que supervisiona todas as comunicações interestaduais e internacionais. A FCC mantém padrões e consistência entre os tipos de mídia (cada vez mais numerosos) e métodos de comunicação, ao mesmo tempo em que protege os interesses dos consumidores e das empresas. A agência responde perante o Congresso Americano.
As ações da FCC são observadas de perto pelos seguidores do mercado de ações porque afetam as empresas de formas diversas, independentemente to tipo de negócio. A FCC autoriza acessos à tecnologia celular e sem fio, regula as fusões e aquisições de empresas de mídia, protege os direitos de propriedade intelectual e regula padrões de conteúdo e distribuição para todas as empresas de mídia que operam nos Estados Unidos.
Não temos nada parecido aqui no Brasil. A Anatel é apenas um arremedo. Além do mais, nossas agências parecem estar loteadas por capachildos de políticos oportunistas e que insistem em preencher cargos técnicos da maior relevância - como os das agências reguladoras brasileiras, com gente de quinta categoria. Isto priva nosso país da isenção e da coerência necessárias, à adequada proteção dos interesses dos cidadãos, das empresas e das relações entre eles.
A administração Trump e o novo nomeado para liderar a comissão da FCC – Sr. Ajit Pai, estão trabalhando com afinco para desmantelar/reverter as regras pró-neutralidade da internet, aprovadas durante os anos de Obama, apesar da maioria dos americanos apoiarem estas salvaguardas. Contudo, há um grande número de interessados que nunca apoiaram o princípio de neutralidade da internet, a saber:
- empresas de telecomunicações;
- respectivos lobistas; e
- oligarquias (aqueles que morrem de medo da igualdade de oportunidades).
E agora pasmem! Segundo informação publicada no site http://slashdot.org, de acordo com uma nova análise da Gravwell - empresa de análise de dados americana - um novo grupo se agrega aos mais de 22 milhões de comentários enviados ao site da FCC: os bots.
A propósito, bots (o termo vem de robots) ou, neste caso, chat-robots ou chat bots, que são programas de mensagens, que se fazem passar por pessoas e participam de discussões nos sites de notícias e nas redes sociais, espalhando comentários e “emitindo opiniões”.
Segundo a fonte (um email vazado), a Gravwell descobriu que apenas 3,9 milhões dos comentários eram "únicos". O resto era um monte de mensagens copiadas, em quantidade tão grande que sugere o uso de bots, quase todos (curiosamente) contrários à neutralidade da rede. Por outro lado, dos 3,9 milhões de comentários “orgânicos” identificados, 95 por cento eram a favor da manutenção da neutralidade da internet.
Parece, portanto, que está sendo gradativamente inoculada na internet uma nova forma de cidadania. A cidadania das “fake news”, conceito tão bem explorado e rotulado por seu “patrono”, o senhor Donald Trump.
Meus caros amigos leitores, infelizmente acredito na prevalência do pior da natureza humana, se nós assim o permitirmos. Nosso congresso é exemplo disto.
No Brasil, infelizmente, não temos (ainda) uma sociedade suficientemente educada e especializada, a ponto de poder contar com organizações como a Gravwell. Somos alvo fácil para os oportunistas endinheirados de todas as cores, credos, ou ideologias.
Entretanto, não se iludam. Junto com a horda de bots, há os “papagaios” desavisados (que pouco ouvem e muito cacarejam) que insistem em repassar notícias e fatos falsos, sem verificar, minimamente, sua veracidade. É prudente lembrar que “político moderno” governa e legisla em função da chamada “opinião pública”. Conceito difuso, fortemente influenciado pelas estatísticas (sabe-se lá Deus onde e como são calculadas) obtidas a partir de opiniões coletadas nas redes sociais, ou seja, nossos posts, compartilhamentos e repasses de informações. E, pelo visto, esses ambientes começam a sofrer a infestação de bots, apesar dos caminhões de dólares investidos em segurança pelo Google, Facebook, Amazon e companhia ...
No meio desses tagarelas clicadores, estamos nós. Se não abrirmos os olhos, estaremos ajudando ao “fake news” a prosperar. E, francamente, isto é nossa responsabilidade...
Abraços a todos.
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