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Criptomoedas - Por que as ICOs falham?

  • Roberto Barberá
  • 27 de fev. de 2018
  • 15 min de leitura

Em 12 de junho de 2017, um protocolo Ethereum chamado Bancor, lançou sua ICO (Initial Coin Offering). Uma ICO é uma espécie de IPO, só que o ativo comercializado é uma criptomoeda e não uma ação de empresa. A Bancor levantou USD153 milhões em três horas...

Não, você não está lendo errado!!!

Veja o caso de outra ICO, a BAT (Basic Attention Token), em que foram captados USD35 milhões em trinta segundos!!! Isto é perto de USD1,2 milhões por segundo!

E se tudo isto ainda não lhe fez cair o queixo, o que pensar da UET? A empresa UET lançou uma ICO que arrecadou USD40 mil em apenas três dias. UET significa “Useless Ethereum Token" (Ethereum Token Inútil) ou seja, é uma "piada em forma de moeda". Veja, a seguir, o slogan de vendas que estes autênticos caras-de-pau usaram: "UET é um token padrão ERC20, criado para que você possa segurá-lo e transferi-lo. Além disso ... nada. Absolutamente nada é prometido”. Realmente impressionante. E, mesmo assim, um monte de gente comprou.

Portanto, seja bem-vindo ao mundo louco das criptomoedas!

Não há dúvida de que as ICOs mudaram a paisagem da especulação financeira, ao longo dos últimos dois anos. Somente no primeiro semestre de 2017, elas arrecadaram mais de USD1 bilhão! Ao final de 2017, já eram USD4 bilhões. E isto apenas em 2017.

No entanto, todas estas histórias de subida de preços vertiginosa, tendem a produzir euforia no grande público que acaba enxergando a realidade através de lentes “cor-de-rosa”. O fato nu e cru, é que estatísticas mostram que mais de dois terços das principais ICOS lançadas, falharam em cumprir suas metas de emissão.

E não se trata de visão exageradamente pessimista. Nos últimos anos, milhares de criptomoedas foram criadas e mais de 90% delas falharam. E é fato, também, que devido à extrema valorização de algumas delas, há desenvolvedores inescrupulosos inundando o mercado com dapps/coins (aplicações distribuídas/moedas) com o único objetivo de preencher sua torta de ganhos, aumentando as chances de surgir uma nova "bolha".

Portanto, vou tentar começar a responder à pergunta inicial que motiva este artigo que é: "por que a maioria das ICOs vai falhar em atingir suas metas de emissões?"

Antes de prosseguir, esclareço que não odeio as ICOs. Pelo contrário, acredito que a infraestrutura da qual as criptomoedas são parte importante, é inexorável e definirá novo paradigma para as relações de mercado, sejam elas entre indivíduos, ou entre corporações.

Isto posto, vamos raciocinar juntos:

1) Como funciona uma ICO

Em primeiro lugar, determinado grupo de desenvolvedores emite uma quantidade limitada de tokens (moeda nativa que permite o exercício de direitos, em determinado ambiente). Ao manterem uma quantidade limitada de tokens, estes desenvolvedores ajudam a garantir que os próprios tokens subam de preço, dependendo da demanda. Os tokens geralmente nascem com preço estático e pré-determinado, cuja oferta é regulada pelo documento de regras e metas de emissão, em que a ICO foi baseada (whitepaper prospect). Concluídas as emissões iniciais, o preço do token passa a variar de acordo com a lei de oferta e procura, refletindo o interesse despertado e o fluxo de emissões programado.

Tokens podem ser pensados como se fossem moedas compradas num parque de diversões e que dão direito ao comprador, a "andar" nas atrações lá oferecidas. Uma outra analogia poderia ser feita com cartelas de “consumação” vendidas na entrada de um night-club e que dão direito a um certo número de drinques, ao seu portador.

Só para exemplificar, vou usar o “ambiente” ou “ecossistema criptoeconômico” Ethereum. Se o Ethereum fosse um parque de diversões, usaríamos dois tipos de tokens – o Ether e o GAS. Pagaríamos Ether, para andar nas atrações e GAS, para nos deslocarmos entre uma atração e outra. É como se tivéssemos dois centros de custos diferentes e que são remunerados diferentemente. O Ether remunera quem oferece as atrações e o GAS paga, por exemplo, o trenzinho que lhe desloca entre uma atração e outra, dentro do “parque” Ethereum.

O conceito por trás do Ethereum consiste na utilização de uma espécie de contrato (chamado smart contract, ou contrato inteligente) que permite a realização automática de transações dentro do sistema Ethereum. Estas transações podem ser complexas e são automaticamente "permissionadas", tão logo o contrato detecte que "condições de disparo" estejam satisfeitas (ou resolvidas). Estas condições de disparo são chamadas de "triggers" e liberam as funcionalidades para as quais o contrato foi concebido. Podem ser funções que verifiquem a autenticidade dos participantes (compradores, vendedores, etc..), que liberem o acesso a rotinas ou a direitos (funcionalidades programadas), que causem movimentações de quantidades de Ether, pelas carteiras eletrônicas dos participantes, enfim, todas as ativações que façam sentido para a efetiva resolução completa, ou parcial, deste contrato.

A operação em si é bastante simples, mas o encadeamento destas funções, se efetuado em larga escala (na internet podem ser centenas de milhares de contratos sendo executados simultaneamente), requer alocação de tempo e esforço computacional compatíveis e que podem tornar esta resolução demorada e até problemática, dependo das condições da rede (ou ecossistema hospedeiro).

Mas se a evolução da blockchain vem ocorrendo, embora numa velocidade muito aquém da imaginada inicialmente, por que a maioria das ICOs falha?

A razão principal das falhas é que a maioria dos desenvolvedores/empresários têm dado pouca atenção à consistência das ICOs, no que diz respeito aos três pilares que as sustentam. São eles:

- a criptoeconomia;

- a utilidade do token; e

- a segurança.

Pilar nº 1: a criptoeconomia

É curioso como a maioria dos desenvolvedores parece esquecer-se da "criptoeconomia", ao conceberem suas ICOs. Criptoeconomia é um termo composto pela junção de "criptografia" com "economia". Enquanto todos os desenvolvedores cuidam minuciosamente da implementação da parte criptográfica, a maioria parece não dar muita atenção à parte "econômica" do projeto. O resultado disto é que tem sido muito raro encontrar um token, cujo arcabouço econômico tenha sido planejado de forma minimamente adequada.

Para que um token seja lançado e mantenha seu valor a longo prazo, é necessário que haja demanda suficiente para tal. Entretanto, não se percebe qualquer planejamento econômico nas ICOs recentemente lançadas. Não há, por exemplo, sequer menção a eventuais efeitos inflacionários. Não há recomendações a respeito do uso dos tokens, ou alertas/orientações quanto à conduta recomendada, diante da possibilidade de volatilidade extrema.

O que se vê é muito marketing explorando a que se chama de FOMO (Fear Of Missing Out) – ou ”medo de ficar fora” (da festa) – o que acaba induzindo incautos a comprarem apenas “conceitos”, muitas vezes insustentáveis do ponto de vista econômico, mas que andam engordando as contas bancárias destes desenvolvedores. Estes tokens meramente especulativos, acabam por não conseguir manter preços que superem seu DNA inflacionário.

Antes de aprofundar estas reflexões, vou tentar explicar meu entendimento a respeito do que considero o problema fundamental da maioria dos modelos presentes nas ICOs de 2017.

Uma das principais características das ICOs é a de que qualquer pessoa pode arrecadar dinheiro, com base apenas numa ideia, ou conceito, e não, num produto acabado. Na maioria desses casos o que existe, de fato, é um longo caminho a ser percorrido, antes que o conceito apresentado possa tornar-se um produto, ou serviço, consistente. Neste cenário os riscos aumentam e as taxas de insucesso acompanham estes riscos. E estas taxas têm sido bastante altas, ficando na ordem de 90% dos casos acompanhados (fonte: https://blockgeeks.com/).

No entanto, mais de USD800 milhões foram despejados em criptomoedas, só no segundo trimestre de 2017. No mesmo período, apenas USD235 milhões foram alocados a capital de risco, na forma de joint ventures.

A impressão que se tem é a de que estes investidores têm pouca, ou nenhuma ideia a respeito do funcionamento das criptomoedas, ou da blockchain. Parecem estar apenas especulando para ganhar dinheiro rápido e assumindo riscos altos demais.

Ao perceberem este comportamento de manada, os desenvolvedores mudaram de foco. Ao invés de projetarem dapps/tokens (distributed dynamic applications/moedas) que adicionassem valor ao ecossistema blockchain, optaram por produzir conceitos para lançarem ICOs. O objetivo final tornou-se: "produza um whitepaper convincente o suficiente, para criar expectativa de ganho e obter um bom rendimento na sua ICO".

A especulação desenfreada e quase nenhuma diligência, caracterizam um comportamento que o mercado explica por meio da "Greater Fool Theory“ (a teoria do idiota mor, em linguagem chula).

E o que é a “Greater fool theory”?

Ela afirma que o preço de determinado ativo aumenta, não por causa de seu valor intrínseco, mas pela influência de crenças irracionais que são associadas a este ativo. Apenas a título de ilustração, o mercado das artes é um ambiente em que se observa frequentemente, esta teoria em pleno funcionamento. Não estou sugerindo que os investidores das artes sejam tolos. Ocorre que, num leilão de arte, a "vaidade de alguns", compete com a "paixão de outros". Esta mistura de sentimentos catalisa comportamentos aparentemente inconsequentes, elevando os preços de algumas obras a patamares impensáveis.

Aplico raciocínio semelhante às ICOs, substituindo vaidade e paixão, pela ganância. A gente acompanha e observa um monte de tokens que não agregam absolutamente nada de novo ao ecossistema. No entanto, por terem tido sua escalada de preços exageradamente exaltada pelos meios de comunicação, estes tokens têm sido adquiridos por hordas de investidores desinformados. Como resultado, começam a apresentar preços perigosamente altos e, provavelmente insustentáveis, nos médio e longo prazos.

No exato momento em que escrevo estas linhas, o Bitcoin já havia caído 20% em relação ao seu topo histórico, apenas numa noite.

Por uma questão meramente didática, vamos a um sumário de meu raciocínio, até o momento:

- investidores andam investindo milhões em conceitos que muitas vezes nem chegaram a apresentar uma versão “alfa” de seus produtos. Parecem desesperados para colocar seu dinheiro nas ICOs, porque pensam que elas são um super atalho para o enriquecimento rápido;

- para ganhar dinheiro rapidamente, desenvolvedores estão criando produtos mais focados nas ICOs, do que na real agregação de valor aos negócios; e

- por causa da "Greater Fool Theory", o valor dos tokens está claramente inflacionado.

Se o seu nariz anda farejando cheiro de “bolha”, você não está sozinho. Já vimos este filme. Toda a situação das ICOs sugere uma nova onda que já nos varreu, no final dos anos 90. Vovô me dizia que aqueles que não conhecem história tendem a repeti-la, por simples desconhecimento.

Vamos, então, fazer um breve exercício de memória relembrando a histórica bolha das .COM:

Por volta de 1997, a internet tornou-se grande e as empresas de tecnologia começaram a surgir de todos os lados. Os investidores começaram a colocar grandes somas de dinheiro, sem que conhecessem adequadamente o real potencial de cada negócio. De maneira progressiva a euforia tomou conta do mercado e pessoas, independentemente de nacionalidade, começaram a experimentar o sentimento de FOMO (Fear Of Missing Out, ou medo de ficar de fora) e reagiram em massa, entregando suas economias indistintamente às "empresas de internet", como eram referidas na época. Parece que foi ontem, quando Warren Buffet, numa rara entrevista na época, observou o seguinte:

"O fato é que o mercado anda aceitando a criação de empresas sem densidade. Verdadeiras entidades que parecem ter sido projetadas, mais com o objetivo de ganhar o dinheiro do aporte de investidores, do que com seus próprios negócios. Não será a primeira e nem a última vez que o IPO pode acabar sendo o objetivo final dos promotores deste tipo de empresa, e não os lucros a serem gerados."

Meses depois, pudemos ouvir estrondos sucessivos espalhados por todo o noticiário mundial. A maioria das empresas .COM que haviam conseguido milhões de seus investidores, fracassavam e algumas acabaram revelando autênticos golpes. Verdadeiros “cyber” contos-do-vigário”.

Se a memória não me falha, 2002 foi o ano da explosão da bolha .COM. Ações destas empresas literalmente derreteram e investidores de todos os portes perderam milhões, em apenas um ano. Um dos exemplos mais infames foi o da pets.com, que perdeu USD300 milhões em 268 dias!

O paralelo entre o fenômeno das ICOs e a bolha .COM é inevitável e traz preocupação. As ICOs atraíram e continuam a atrair muitos investidores que não querem perder a “corrida do ouro”. Tais indícios me levam a crer que a maioria destes projetos não terminará bem.

Há, entretanto, valorosas exceções contribuindo seriamente para que a criptoeconomia decole. Iniciativas como a blockchain Bitcoin, Ethereum – as mais conhecidas – e muitas outras como Matrix, Golem, etc., têm inovado e contribuído decisivamente para atrair a atenção de mega players como a IBM, Microsoft, Google e Bancos, que vêm investindo milhões no desenvolvimento e domínio destas tecnologias.

Porém, a realidade nua e crua é a de que, a menos que os desenvolvedores cessem os esquemas de enriquecimento rápido e optem por retomar o caminho da inovação e da agregação de valor ao ecossistema criptoeconômico, todo cuidado será pouco. Poderemos estar assistindo à repetição de padrões de especulação deprimentemente semelhantes àqueles observados durante a década de 1990 e início dos anos 2000, cujo triste final já conhecemos.

Pilar nº 2: utilidade

Qual seria a definição de utilidade? Útil, significa, que serve a algum propósito. Que possibilita uso, ou consumo. Há uma gama de definições que se encaixam.

Infelizmente, a maioria das ICOs não maximiza a utilidade dos tokens que introduzem. Normalmente os prospectos (whitepapers) não detalham os casos de uso destes tokens e nem o potencial que é agregado aos negócios que eventualmente os adotarem. A impressão que se tem é que os desenvolvedores conhecem profundamente a tecnologia envolvida, porém, são quase ignorantes (ou inexperientes) nos demais quesitos igualmente importantes, quais sejam, gestão, finanças, economia e relação com investidores. A maioria das equipes nem menciona auditoria e parece achar desnecessária a emissão de relatórios informacionais para investidores.

Se eu estivesse pensando em usar tokens no meu negócio, procuraria entender completamente o papel deles, suas potencialidades e limitações. Tokens, quando bem utilizados, tornam-se ferramentas multifuncionais que podem trazer economia e racionalização para qualquer negócio.

Como observa William Mougayar, existem três princípios para o uso de tokens, a saber:

- seu papel, ou funções no seu negócio;

- suas características (ou propriedades); e

- seu propósito (ou objetivo).

Cada função de um token tem seu próprio conjunto de recursos e finalidades. Vou listar os principais papéis a serem atribuídos aos tokens:

Conceder Direitos

Ao tomar posse de determinado token, o titular recebe uma certa quantidade de direitos a serem exercidos dentro do ecossistema. Por exemplo, ao ter posse de certo número de moedas de uma DAO (Distributed Autonomous Organization), que opere um contrato complexo, você poderia ter direitos de voto, dentro desta DAO, para decidir quais projetos serão alvo de financiamento e quais não.

Promover trocas de valor

Os tokens possibilitam a criação de um sistema econômico interno, dentro dos limites do próprio negócio. Os tokens podem ajudar aos compradores e vendedores a negociar valores dentro de determinado ecossistema. Viabilizam que pessoas possam ser remuneradas após a conclusão de tarefas específicas, com atingimento, ou não, de metas preestabelecidas. A criação e manutenção de "economias" individuais e internas ao próprio contrato inteligente, é um dos papéis mais interessantes dos tokens.

Permitir Tarifadores

Um token também pode atuar como uma espécie de tarifador (ou cobrador de pedágio), para que você possa utilizar funcionalidades previstas, porém não convencionadas (ou contratadas), num sistema ou ambiente específico.

Ativar/desativar Funcionalidades (Functionalities activation/deactivation)

O token também pode habilitar detectores para enriquecer a experiência do usuário, dentro dos limites de um ambiente particular. Por exemplo: ativar (ou desativar) instruções ou propagandas no navegador de quem estiver fazendo o acesso, no sentido de melhorar a experiência de navegação na plataforma.

Funcionar como Moeda (Coin)

Pode ser usado como moeda para realizar transações dentro e fora do ecossistema fornecido.

Distribuir Ganhos (Earnings)

Ajudar na distribuição de lucros, dividendos ou outros benefícios financeiros, entre investidores de um contrato, ou projeto específico.

Quanto mais propriedades você puder atribuir ao seu token, mais valor estará sendo agregado ao seu ecossistema. Se o papel de seus tokens não puder ser claramente definido e seus casos de uso explicados (exercendo pelo menos duas, das funções listadas anteriormente), seu token não terá utilidade e seu negócio, provavelmente, não precisará dele.

Agrego uma característica a mais: a velocidade do token (token velocity).

Velocidade do token tem muito a ver com a seguinte questão: o "proprietário" deve manter seus tokens para especular ganhos no longo prazo, ou deve usá-los imediatamente? Quem disser que sabe a resposta certa é, na melhor das hipóteses, um sujeito brincalhão. Esta questão transformou-se em dilema, para a maioria dos que os detêm, uma vez que tokens vêm sendo tratados muito mais como instrumento de especulação, do que como meio de exercício de direitos a longo prazo.

O que este panorama mostra (tire suas próprias conclusões dando uma olhada no estudo de Willy Foo, publicado pela Forbes), é que todos os anos os tokens estão piorando. E a razão para esta conclusão é simples. Mais e mais ICOs de valor duvidoso continuam a ser oferecidas, nas quais os respectivos tokens não apresentam qualquer utilidade, além daquela de serem meramente meios de liquidação.

Entretanto, mesmo neste meio de indisfarçáveis excessos especulativos, percebe-se um resquício de racionalidade entre os investidores, ao constatarmos que os ecossistemas Bitcoin e Ethereum apresentam volumes de aceitação e cotações de tokens, bem mais altos e distantes das demais. E isto se deve, em boa parte, aos sólidos princípios de funcionamento. O equilíbrio entre a política restritiva de emissões e o respeito transparente às regras de funcionamento, se traduzem numa atrativa relação entre tokens circulantes (ou úteis) e o total de tokens emitidos. Nenhum outro criptograma tem tanto valor de rede quanto o bitcoin e ninguém deseja trocar bitcoins, porque acham que há valor em segurá-los.

Portanto, tanto desenvolvedores, quanto investidores, devem responder às seguintes perguntas, antes de envolverem tokens em seus negócios:

- será que meu projeto realmente precisa de um token?

- estarei aproveitando plenamente o token adotado e obtendo o máximo possível de “utilidade”?

- este token será útil somente para fins de liquidação inicial?

- existe algum valor em manter este token por prazo mais longo?

- este token consegue desempenhar mais de um papel, ou tantos papéis quanto meu negócio necessite atualmente? E em prazo mais longo?

Na minha percepção, somente quando desenvolvedores e investidores ajustarem seus óculos, no sentido de passarem a enxergar a verdadeira finalidade dos tokens, é que poderão tirar proveito efetivo dos ecossistemas criptoeconômicos e das oportunidades decorrentes.

Pilar nº 3: segurança

Durante a divulgação e imediatamente após a conclusão de uma ICO, o desenvolvedor passa a carregar um grande alvo nas costas. Se a segurança operacional não tiver sido adequadamente contemplada no projeto, a infraestrutura não resistirá aos eventuais ataques de hackers.

Na realidade as chances de sinistro já são de 1 para 10. Isto significa que um em cada dez investidores acabará vítima do cyber crime, o que é assustador. A relação causal entre estes ataques têm sido classificada em três grandes categorias:

- código defeituoso (bugs);

- esquemas de “phishing”; e

- má gestão de chaves criptográficas.

Obs.: estas categorias podem se somar, dentro de um mesmo ecossistema.

[if !supportLists]=> [endif]exemplo de exploração de código defeituoso:

Talvez o caso mais emblemático deste tipo de exploração seja o de ataque ao DAO, do Ethereum. Apenas relembrando, DAO é a abreviatura, em inglês, de Organização Autônoma Descentralizada, como era chamado o complexo smart contract (contrato inteligente) que revolucionaria o Ethereum, para sempre. Funcionava de forma descentralizada, como uma espécie de fundo de capital de risco e que iria financiar todas as futuras dapps (distributed applications) desenvolvidas e ativadas no ecossistema (detalhes aqui).

Em 17 de junho de 2016, mais de trinta mil pessoas foram vítimas de “loop-attacks” ao DAO do Ethereum. Os atacantes exploraram uma falha na rotina de “transferência” de Ether, e provocavam loops que retiravam várias vezes a quantidade de Ether, ao invés de uma vez só. Os envolvidos perderam, em média, USD7.500 cada um, totalizando um prejuízo em torno de USD50 milhões. Este episódio gerou verdadeiro pandemônio na comunidade Ethereum. O preço do Ether desabou de USD20 para USD13, na mesma noite. A repercussão foi tão forte, que acabou gerando uma cisão do Ethereum em duas redes: Ethereum e Ethereum Classic.

[if !supportLists]=> exemplo de ataque por phishing:

Phishing é o processo pelo qual os golpistas conseguem informações confidenciais, como detalhes de um cartão de crédito, ou credenciais de acesso. Os atacantes geralmente usam mensagens de e-mail com links e, mais recentemente, as redes sociais. Na maioria dos casos, usam perfis falsos que se assemelham aos das verdadeiras ICOs e tentam se passar por patrocinadores, desenvolvedores famosos, ou recrutadores. Efetuam, desta forma, a captação de dados de desenvolvedores e/ou de investidores descuidados e cobram, ou roubam criptomoedas. Muito cuidado com patrocinadores e recrutadores em redes sociais.

[if !supportLists]=> manejo inadequado de chaves criptográficas

Há, pelo menos, quatro perguntas que todo desenvolvedor, ou investidor, deveria fazer a si mesmo, antes de considerar o uso de criptomoedas. São elas:

- onde estão sendo armazenadas minhas chaves privadas?

- de que tipo são e como estão sendo protegidas minhas carteiras eletrônicas?

- como estão sendo protegidos os tokens de meus clientes no ecossistema em uso?

- com quem e de que forma estarei compartilhando as chaves de minhas carteiras de assinatura múltipla (multiassinadas).

Se você é um desenvolvedor, ou empresário disposto a utilizar a blockchain em seu negócio, prepare-se para responder todas as perguntas mencionadas e mais algumas. Eu, como investidor perguntaria, por exemplo:

- o que lhe impede de fugir com todas as minhas criptomoedas?

Uma resposta possível seria: usaremos apenas carteiras eletrônicas multiassinadas, com todas as chaves privadas fortemente criptografadas, baseadas em hardware autônomo e móvel e você receberá cada chave privada junto com um backup em hardware, para sua guarda.

- e o que seria uma carteira de assinatura múltipla (ou multiassinada)?

É como se fosse um cofre com mais de uma chave. Cada uma destas chaves fica em poder de pessoas diferentes. Para funcionar, a carteira necessita ser aberta por, pelo menos, duas chaves.

Uma carteira de múltiplas assinaturas cumpre três propósitos:

- permitir maior segurança intrínseca para o funcionamento da carteira;

- evitar o erro humano; e

- compartilhar responsabilidades.

A carteira eletrônica de assinatura múltipla carrega potencial virtualmente ilimitado e pode propiciar transparência operacional que ajuda muito a dissipar qualquer dúvida, ou desconfiança, por parte de investidores. Pode facilitar a gestão operacional e de pessoas, propiciando um ambiente mais participativo e estimulante, dependendo das diretrizes de gestão estabelecidas para o negócio.

2) Conclusão

No momento em que escrevo este texto, as ICOs permanecem sendo criadas em quantidade exponencialmente crescente. Só na China já há mais de mil criptomoedas em circulação. As criptomoedas continuam aumentando em números absolutos, apesar da alta taxa de mortalidade.

Se você é um desenvolvedor e dependendo de como estivesse “encarando” seu projeto, eu calcularia, sem medo de errar, qual a seria sua probabilidade de êxito.

Considero a blockchain (e seus diversos ecossistemas) inovadores e revolucionários. Não há como detê-la. Blockchain significa relações saudáveis. Eu até já a apelidei de "ecointernet", pois acredito que ela venha cumprir um papel regenerador e higienizante, da mesma forma que a natureza o faz, diante da devastação. O uso da blockchain é inevitável. Trata-se, apenas, de questão de tempo.

Portanto, se você é um desenvolvedor, o sucesso de sua implementação dependerá da utilidade, funcionalidade, segurança e sobretudo, do valor que o token adotado vier agregar ao ambiente de negócios.

A exemplo da vida, o sucesso dos projetos de criptomoedas dependerá, diretamente, das escolhas dos desenvolvedores. A adoção de princípios de design já consolidados e a aderência às funcionalidades exigidas pela criptoeconomia, ditarão as chances de sucesso das criptomoedas, a longo prazo.

E se você é daqueles que produz, ou investe, em tokens apenas poluentes, estarei tranquilo. A natureza cuidará de você.

Abraços a todos.


 
 
 

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